Uma pessoa que atendo, que acompanha este blog e acredita que as informações que são colocadas podem ser útil para diversas pessoas que passam por problemas parecidos, pediu para escrever um relato sobre sua situação atual perante a depressão.
Relato de um depressivo
É muito difícil colocar em palavras tudo o que sinto, dar nome às sensações e sentimentos sempre me dá a impressão de que não explica exatamente aquilo que está no meu interior. Na verdade, às vezes acho que nem eu sei explicar o que sinto.
Há dias eu acordo com um nó na garganta, com o corpo pesado, com a sensação de que não dormi o suficiente – apesar de ter dormido mais que o normal para mim – e com um sentimento que eu não sei nomear: tristeza, ansiedade, estagnação, apatia, falta de ânimo – são tantos os nomes, mas parece que nenhum deles realmente condiz. Até vem uma imagem na minha mente, é como se eu estivesse cinza – não o mundo e as pessoas ao meu redor, mas eu, meu corpo, meus pensamentos e sentimentos, tudo cinza -, sem vida, sem brilho, sem calor, sem energia.
Sempre penso no que pode estar causando tudo isso, mas não tenho uma resposta concreta. Minha vida profissional está caminhando bem, claro que podia estar melhor, mas estou no caminho certo, faço o que gosto; minha vida familiar está tranquila, hoje sei que a família que eu gostaria de ter está nos contos, nada como terapia para ajudar a aceitar meus parentes como eles são – isso ajuda muito no relacionamento e convívio; os relacionamentos em geral também estão caminhando, sou uma pessoa que se relaciona bem com os outros – às vezes acho que sei disfarçar bem o que está dentro de mim – sei que tenho muitos amigos que gostam de mim. E com isso penso: “se está indo tudo bem na minha vida, porque eu estou assim?”.
É difícil falar sobre isso com as pessoas, normalmente falam: “porque você está assim?” ou “não é nada”, “isso é falta do que fazer”; não gosto desse tipo de comentários e por isso, na maioria das vezes, prefiro não dividir meus pensamentos e sentimentos com as pessoas ao meu redor. Isso é uma faca de dois gumes, porque, por um lado, eu me protejo de comentários negativos ou dos olhares de dó (que eu odeio), mas por outro, eu me sinto muito só. Hoje a terapia é o único lugar onde eu consigo me abrir, porque não escuto essas coisas, posso chorar sem que alguém diga “não fique assim” e posso falar o que penso e sinto sem receber críticas ou conselhos ridículos.
Eu acho que sou uma pessoa com muita esperança, sempre acredito que estou assim por que preciso aprender algo, preciso melhorar algo e por isso sempre procuro formas de evoluir (acho que é por isso que não nunca pensei em me matar – apesar de já ter desejado muito morrer). Mesmo assim, desse jeito que estou, eu ainda acho que vou conseguir mudar tudo isso e viver melhor.
Tenho essa esperança porque eu já consegui uma vez. Alguns anos atrás eu estava assim, acho que estava até pior, pois não acreditava que podia mudar minha situação, então, eu acho, que tudo era muito mais difícil. Mas, eu consegui mudar, foi bastante trabalhoso: é como um mergulho no que há de mais negro dentro de si e dá medo de não conseguir sair mais. Para mim a terapia foi muito importante, pois quando eu achava que estava me perdendo e que não iria sair mais eu tinha a palavra certa para me dar um fio de força para continuar.
Agora, mesmo com tudo isso, mesmo querendo passar o dia todo em casa, dormindo ou não fazendo nada, porque parece que nada da certo, há em mim uma voz que diz que “isso também vai passar”. Isso é bom!!
Anônimo
